O valor da vida
Acordei hoje (quarta-feira) com muita vontade de tornar-me uma pessoa melhor. Sempre que tal sensação me possui (o que tem sido mais freqüente nestes últimos anos), sinto um pendor enorme de atirar-me sobre os textos de Gustavo Corção. Não sei se os leitores o conhecem (creio que não, pelo fato de ele ter sido marginalizado pelas editoras por ser católico). Bem, se não o conhecem, fica aqui o convite: leiam Gustavo Corção! Existem sites que disponibilizam vários de seus textos (e para quem mora em São Carlos, também existem livros seus na biblioteca Municipal e da UFSCar).
Mas voltando à minha quarta-feira...Logo pela manhã reli um de seus mais belos textos (na verdade a transcrição de uma conferência ministrada na Policlínica do Rio de Janeiro) chamado O valor da vida. “Não há vidas inúteis...” é essa a forma pela qual ele começa a palestra. E o que isso significa? Significa que a vida tem um valor absoluto, que vale a pena lutar por ela, que vale a pena curar e que vale a pena curar-se (achei isso ótimo); não importa a enfermidade, não importa o grau de desespero, de desengano, de miséria...Vale a pena lutar pela vida, pela sua melhora, pela sua sanidade já que o homem –diz Corção – é um animal que faz questão de ser decente.
Mas em que consiste o “absoluto” da vida? Onde está esse mistério? Está na “pessoa humana”, esclarece Corção; é ela a raiz do absolutismo da vida; ela é a realidade da existência de cada um de nós, únicos e insubstituíveis em todo nosso ser. Tal realidade é muitas vezes esquecida e encoberta por um outro tipo de valorização: a valorização do efêmero, do passageiro, do quantitativo. Na maioria das vezes, não vemos a pessoa, vemos os números, vemos o empresário, o médico, o presidente, o prefeito, o general, o mendigo, o operário...A frase “Não há vidas inúteis...” tem sentido verdadeiro somente se enxergarmos a vida como uma realidade prodigiosa e a pessoa humana como fonte de amor. Assim como Corção, não estou aqui apelando para o sentimentalismo, mas sim para o realidade da existência desse ser que é a “pessoa” e desse sentimento que é o “amor”. Querem ver uma exemplificação simples de como um indivíduo torna-se uma pessoa? Atentem à fala de Gustavo Corção:
“Vemos passar na rua um regimento. Os soldados são todos iguais.(...) O soldado, até pouco tempo atrás, era o mais despersonalizado, o mais numerado dos homens.(..) Cada um é uma unidade quantitativa, de fácil substituição. Na guerra morrem aos milhões. O boletim militar menciona essas perdas, exprimindo-as com cifras.(...) Quando porém o boletim de guerra é afixado nas paredes de burgo, com os nomes de vítimas, há uma velha camponesa que sente a vista escurecer, e tudo em torno oscilar, vendo um nome, um só nome, um só entre tantos, pular com uma flecha da lista para o coração.”
Pronto! Um indivíduo (alguém qualquer) tornou-se uma pessoa (alguém amado). Percebi que hoje (época de intensa comunicação) vivemos num tempo em que há um “paroxismo de quantificação”: x morreram no Iraque, y na guerra do tráfico no Rio de Janeiro, z na enchente ocorrida na China, 120 milhões nos regimes comunistas da Rússia e da China, 7 milhões nos campos nazistas... Quase duzentos no vôo 3054 da TAM.
Comovido após ler o texto de Corção, fui buscar na internet informações para escrever essa crônica. Na busca, achei a lista das vítimas do terrível desastre e comecei a lê-la. De repente, comecei a chorar, literalmente a chorar: indivíduos - através de fotos e relatos - tinham se transformado em pessoas.
Mas voltando à minha quarta-feira...Logo pela manhã reli um de seus mais belos textos (na verdade a transcrição de uma conferência ministrada na Policlínica do Rio de Janeiro) chamado O valor da vida. “Não há vidas inúteis...” é essa a forma pela qual ele começa a palestra. E o que isso significa? Significa que a vida tem um valor absoluto, que vale a pena lutar por ela, que vale a pena curar e que vale a pena curar-se (achei isso ótimo); não importa a enfermidade, não importa o grau de desespero, de desengano, de miséria...Vale a pena lutar pela vida, pela sua melhora, pela sua sanidade já que o homem –diz Corção – é um animal que faz questão de ser decente.
Mas em que consiste o “absoluto” da vida? Onde está esse mistério? Está na “pessoa humana”, esclarece Corção; é ela a raiz do absolutismo da vida; ela é a realidade da existência de cada um de nós, únicos e insubstituíveis em todo nosso ser. Tal realidade é muitas vezes esquecida e encoberta por um outro tipo de valorização: a valorização do efêmero, do passageiro, do quantitativo. Na maioria das vezes, não vemos a pessoa, vemos os números, vemos o empresário, o médico, o presidente, o prefeito, o general, o mendigo, o operário...A frase “Não há vidas inúteis...” tem sentido verdadeiro somente se enxergarmos a vida como uma realidade prodigiosa e a pessoa humana como fonte de amor. Assim como Corção, não estou aqui apelando para o sentimentalismo, mas sim para o realidade da existência desse ser que é a “pessoa” e desse sentimento que é o “amor”. Querem ver uma exemplificação simples de como um indivíduo torna-se uma pessoa? Atentem à fala de Gustavo Corção:
“Vemos passar na rua um regimento. Os soldados são todos iguais.(...) O soldado, até pouco tempo atrás, era o mais despersonalizado, o mais numerado dos homens.(..) Cada um é uma unidade quantitativa, de fácil substituição. Na guerra morrem aos milhões. O boletim militar menciona essas perdas, exprimindo-as com cifras.(...) Quando porém o boletim de guerra é afixado nas paredes de burgo, com os nomes de vítimas, há uma velha camponesa que sente a vista escurecer, e tudo em torno oscilar, vendo um nome, um só nome, um só entre tantos, pular com uma flecha da lista para o coração.”
Pronto! Um indivíduo (alguém qualquer) tornou-se uma pessoa (alguém amado). Percebi que hoje (época de intensa comunicação) vivemos num tempo em que há um “paroxismo de quantificação”: x morreram no Iraque, y na guerra do tráfico no Rio de Janeiro, z na enchente ocorrida na China, 120 milhões nos regimes comunistas da Rússia e da China, 7 milhões nos campos nazistas... Quase duzentos no vôo 3054 da TAM.
Comovido após ler o texto de Corção, fui buscar na internet informações para escrever essa crônica. Na busca, achei a lista das vítimas do terrível desastre e comecei a lê-la. De repente, comecei a chorar, literalmente a chorar: indivíduos - através de fotos e relatos - tinham se transformado em pessoas.