terça-feira, setembro 26, 2006

A alma da Corporação


Gosto de máximas. Há uma que diz: "Nós somos o que nós comemos". Após assistir trechos do documentário A Corporação passei um bom tempo pensando a seu respeito. Eis o que fiz: peguei a máxima, coloquei-a ao lado dos fatos que o filme elucidou, decorei o quadro sobrepondo-o ao nosso contexto histórico, dei uma chocoalhação e cheguei a uma conclusão. É uma conclusão aterradora! Uma conclusão horripilante! Concluí que nós - seres humanos viventes sob o industrialismo, sob o julgo da modernidade - não sabemos quem somos.
O filme tem como tema o poder das corporações no mundo atual; poder econômico e político; poder que as transforma em entidades maquiavélicas, maliciosas, controladoras de informações, manipuladoras de fatos. O caso supreendente de uma indústria de alimento que comercializava leite de vacas adoecidas com antibióticos me fez pensar na ignorância em que vivemos a respeito do que consumimos (e consequentemente a ignorância de quem somos); me fez pensar no filme Tempos Modernos e no mundo em que vivemos; mundo em que precisamos confiar nossas vidas à impessoalidade dos industriais, à frieza das máquinas...
Sendo contrário ao que prega o mundo do livro 1984 , não penso que "ignorância é força". Mas o conhecimento é...O que é o conhecimento? Desilusão?

segunda-feira, setembro 11, 2006

Comentário ao texto "A lógica da mídia..."

Dênis de Moraes escreveu um texto entitulado A Lógica da Mídia no Sistema de Poder Mundial. Seu trabalho me pareceu mais um panfleto político do que um texto científico. Ele apresenta algumas informações e dados que comprovam a crescente concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucas empresas, e analisa a relação entre as mudanças paradigmáticas e a reestruturação produtiva destas. Segundo o autor, a crescente concentração que gera oligopólios das redes de comunicação seria culpa da "crescente liberalização". Para ele, a falta de investimento dos governos latino-americanos piora esse quadro. Ele diz:

"A dependência aos cartéis é ainda mais problemático diante dos insuficientes investimentos dos governos latino-americanos em ciência, tecnologia e industrialização do entretenimento, restringindo as condições de competitividade dos produtos autóctones." (pg 31)

Ora, o que o autor propõe é que, com o dinheiro dos impostos, o Estado invista em entretenimento! Nada mais latino-americano do que lançar nas mãos do Estado mais e mais funções. Não cabe ao Estado ser produtor de entretenimento!
O discurso do autor, com o passar das páginas, vai pendendo cada vez mais para a esquerda. Sua crítica à concentração e a conseqüente uniformização e declínio da qualidade dos programas traz argumentos pouco originais e rasos.
Ele levanta a seguinte questão: "Como acreditar no valor absoluto da liberdade de escolha quando verificamos qye 85,5% das importações audio-visuais da América-Latina provém dos Estados Unidos?" - "Ora" - eu responderia ao autor - " As pessoas podem desligar a TV, deixar de ir ao cinema; podem sentar em uma praça para ler um livro, para conversar. A liberdade de escolha é algo muito mais amplo do que alugar um filme, escolher um canal de televisão ou ir ao cinema. Colocar a liberdade de escolha em questão por conta da oligopolização da comunicação é exagerar o poder dos meios."
Na página 32 o autor critica a televisão como negócio. Afirma que as empresas "(...)almejam a maximização dos lucros, sem se importar com a formação educaional e cultural das platéias." Ao meu ver, imaginar que seja obrigação da televisão a formação educacional e cultural nos moldes formais é infantilidade. Na mesma página, o autor volta a defender um papel mais forte do Estado nas questões relacionadas à comunicação. Ele diz:" Se desejamos a livre circulação de informações, é hora de revitalizar a sociedade civil e arregimentar forças para as ingentes tarefas de revalorizar a política como âmbito público de representação e de revitalizar oa laços comunitários. Insistimos no estabelecimento de políticas públicas de comunicação, assentadas em mecanismos (prestem atenção!) democraticamente instituídos de regulação, de concessãoo, de tributação e de fiscalização."
Termos como "democratização da vida social". "pluralismo cultural", "diversidade informativa" e " relações participativas" aparecem juntos à "insurgência contra o sataus quo."
Na última página, o pensamento socialista do autor é escancarado:
"(...) contradições que devem se alargar pelas forças contra-hegemônicas e pelo pensamento socialista comprometido com a construção de um tipo de globalização que incorpore justiça social ao desenvolvimento sustentável."
Como se pode ver , o esquerdismo frouxo, o estatismo, as expressões batidas e politicamente corretas dão o tom do texto de Dênis de Moraes.

segunda-feira, setembro 04, 2006

De onde estamos falando?

Nos bares, nos almoços de fim de semana, nos parques, nos estádios de futebol, andando pelas ruas, calçadas, calçadões e praias, enfim, em qualquer lugar, de manhã, de tarde ou de noite, nós falamos; nós emitimos opiniões. E tem muita gente por aí que opina como quem puxa (ou aperta) a descarga: de forma automática, sem um mínimo de noção ou reflexão, sem pensar no paradeiro e nas conseqüências da sua emissão tão natural, tão flúida...
Por que estou falando isso? Baseado em que eu penso isso? De onde estou falando isso? Ou seja, de que perspectiva? De que ótica? De que recorte? Estas são algumas questões que filósofos e cientistas precisam responder para que suas análises ganhem consistência e abandonem o ato de descomer opiniões.
No texto El sentido histórico de la teoria de Eistein (http://www.ensayistas.org/antologia/XXE/ortega/ortega4.htm) o filósofo espanhol José de ortega Y Gasset elogia a teoria da relatividade, não somente por seus avanços no estudo da Física, mas principalmente pelo avanço epistemológico de Eistein. Avanço que ultrapassa a postura errônea dos mestres racionalistas (Newton principalmente). Eis algumas coisas ditas neste texto:

" Los viejos absolutistas (Newton...grifo meu) cometieron en todos los órdenes la misma ingenuidad. Parten de una excesiva estimación del hombre. Hacen de él un centro del universo, cuando es sólo un rincón. Y éste es el error más grave que la teoría de Einstein viene a corregir."

" El espíritu provinciano ha sido siempre, y con plena razón, considerado como una torpeza. Consiste en un error de óptica. El provinciano no cae en la cuenta de que mira el mundo desde una posición excéntrica. Supone, por el contrario, que está en el centro del orbe, y juzga de todo como sí su visión fuese central. De aquí una deplorable suficiencia que produce efectos tan cómicos. Todas sus opiniones nacen falsificadas, porque parten de un pseudocentro. En cambio, el hombre de la capital sabe que su ciudad, por grande que sea, es sólo un punto del cosmos, un rincón excéntrico. Sabe, además, que en el mundo no hay centro y que es, por tanto, necesario descontar en todos nuestros juicios la peculiar perspectiva que la realidad ofrece mirada desde nuestro punto de vista. Por este motivo, al provinciano el vecino de la gran ciudad parece siempre escéptico, cuando sólo es más avisado.La teoría de Einstein ha venido a revelar que la ciencia moderna, en su disciplina ejemplar —la nuova scienza de Galileo, la gloriosa física de Occidente—, padecía un agudo provincianismo."

"Precisemos la cuestión en pocas palabras, pero del modo más claro posible. La perspectiva es el orden y forma que la realidad toma para el que la contempla. Sí varía el lugar que el contemplador ocupa, varía también la perspectiva. En cambio, si el contemplador es sustituido por otro en el mismo lugar, la perspectiva permanece idéntica. Ciertamente, si no hay un sujeto que contemple, a quien la realidad aparezca, no hay perspectiva. ¿Quiere esto decir que sea subjetiva? Aquí está el equívoco que durante dos siglos, cuando menos, ha desviado toda la filosofía, y con ella la actitud del hombre ante el universo. Para evitarlo basta con hacer una sencilla distinción.
Cuando vemos quieta y solitaria una bola de billar, sólo percibimos sus cualidades de color y forma. Mas he aquí que otra bola de billar choca con la primera. Esta es despedida con una velocidad proporcionada al choque. Entonces notamos una nueva cualidad de la bola que antes permanecía oculta: su elasticidad. Pero alguien podría decirnos que la elasticidad no es una cualidad de la bola primera, puesto que sólo se presenta cuando otra choca con ella. Nosotros contestaríamos prontamente que no hay tal. La elasticidad es una cualidad de la bola primera, no menos que su color y su forma; pero es una cualidad reactiva o de respuesta a la acción de otro objeto. Así, en el hombre lo que solemos llamar su carácter es su manera de reaccionar ante lo exterior -cosas, personas, sucesos.Pues bien: cuando una realidad entra en choque con ese otro objeto que denominamos "sujeto consciente", la realidad responde apareciéndole. La apariencia es una cualidad objetiva de lo real, es su respuesta a un sujeto. Esta respuesta es, además, diferente según la condición del contemplador; por ejemplo, según sea el lugar desde que mira. Véase cómo la perspectiva, el punto de vista, adquieren un valor objetivo, mientras hasta ahora se los consideraba como deformaciones que el sujeto imponía a la realidad. "

O SPA! A SPA!

SPA, segundo a ciberenciclopédia Wikipédia é "(...) uma designação técnica para um complexo turístico que providencia actividades de lazer saudáveis, geralmente em contacto com a natureza." A origem da sigla vem do latim sanus per aquam, ou seja, "em boa saúde através da água". Descanço, lazer, relaxamento, sanidade...Ah! Tudo o que a SPA nos toma! Tudo que o SPA nos oferece!
Mas que história é essa de o SPA, a SPA? Como Nelson Rodrigues, creio que nada no mundo seja intranscendente. Vejam vocês: duas siglas, duas idéias completamente opostas. O SPA é a cura. A SPA é a doença, é a Síndrome do Pensamento Acelerado. Mal do século, do milênio, do computador, da internet, da hipercomunicação, da velocidade, do "tem que ser agora!", do "em cima da hora", do "minuto a minuto", do furo, do rombo, da cratera, do buraco negro de informações cujo campo gravitacional nos suga, nos prende, nos perde...Como Raul Seixas, por vezes nos dá vontade de gritar: "Parem o mundo que eu quero descer!"
Que fazer? No SPA, a SPA regride?