sexta-feira, dezembro 07, 2007

Sou contra!

Resolvamos de uma vez por todas a questão de Hamlet: ser ou não ser... Não é esta a questão! O fato é que ser e não ser são posturas concomitantes; ser é ao mesmo tempo não ser e não ser é ao mesmo tempo ser. Por exemplo? O líder judeu que foi pego roubando gravatas é ladrão (não importa o que ele disse à revista Isto É, a lógica é simples: se roubou é ladrão, se matou é assassino, se traiu é traidor, e assim por diante). Ora, ele é ladrão, portanto ele não é um cidadão que não rouba, isto porque...Bolas! Ele roubou! Ele pode sentir vergonha, se arrepender, mas que ele roubou, isso ele roubou.
E é assim, na base do ser ou não ser – base que o caráter histórico, temporal da vida humana transforma em fluidez, em construção, em um tornar-se ou não tornar-se - que o indivíduo vai fincando suas estacas, vai erigindo seus muros, vai moldando suas cercas, vai estruturando sua personalidade e dando à luz a sua pessoa. Eu, por exemplo, sou uma pessoa que é contra qualquer tipo de determinismo, progressismo e engenharia social. Já ergui um muro que me separa destas idéias. Eu não penso que a história humana tenha um caminho que seja necessário trilhar e uma meta determinada a ser alcançada (como pensa o determinismo histórico comunista e socialista). Eu não penso que a história humana tenda a um progresso - no sentido positivo do termo – contínuo (como pensa o cientificismo nascido do iluminismo). Eu não penso que a sociedade possa ser moldada como uma mesa ou uma geladeira o é (como pensou o socialismo nazista e os comunistas marxistas, leninistas, stalinistas...) por um simples motivo: o ser humano não é um pedaço de madeira ou de ferro. Nossas veias não são fios! Nossa pele não é casca! Nossos cérebros não são programas! Nossos corações não são engrenagens!
O determinismo e o progressismo pulverizaram mortal produto sobre os campos cultivados pela tradição e aniquilaram aquilo que eles consideravam uma praga: o respeito aos homens passados, aos feitos passados, às idéias passadas. Para os deterministas e progressistas o passado é entrave, é âncora, é obstáculo que deve ser destruído ou pelo esquecimento puro e simples ou pela adulteração. E quantas milhares de adulterações não têm sido feitas!
Para eles nada que foi feito no passado possui valor simplesmente porque diz respeito ao que aconteceu lá longe, em outros tempos; “lá longe”, como se absolutamente nada identificasse o ser humano da Antiguidade ou da Idade Média com o que vive em 2007d.C, nem mesmo o fato de serem humanos. O caráter humano do humano, o ser humano do humano não se desfaz com o passar dos marcos, com o singrar dos tempos. Transformações surgem inegavelmente, mas aquilo que é essencialmente humano perdura.
Obsessivamente, autores como G.K Chesterton, Carlos de Laet, Mortimer J. Adler, Robert Mainard, Gustavo Corção, Paul Johnson, Nelson Rodrigues e Olavo de Carvalho (em tempo, em lugares e de formas diferentes) acusaram a “modernidade” de tratar o passado como lixo, lançando a tradição da história humana no mais criminoso dos exílios: o esquecimento.
Como obsessivamente eu digo, nossas idéias têm conseqüências, e a idéia do passado como algo ultrapassado e inútil acarretou (e acarretará) conseqüências as mais terríveis.