quinta-feira, novembro 29, 2007

Incontáveis homens e uma sentença

Eis algumas coisas que aprendi: 1) gritos e lágrimas não são argumentos; 2) rotulações baseadas em preconceitos (de cor, de classe, de nacionalidade e assim por diante) não são argumentos; 3) o preconceito, na maioria das vezes, camufla a verdade; 4) a verdade é extremamente valorosa e, por isso mesmo, muitos a camuflam, a escondem, a escamoteiam; 5) rotulações são definições e definições são necessárias, mas devem ser baseadas em fatos e estes devem ser julgados a partir de valores e princípios muito bem estabelecidos; 6) o princípio básico de qualquer juízo a respeito de um fato deve ser a busca da verdade, independentemente dos interesses particulares, classistas, etc; interesses que, se não são causa dos preconceitos, contribuem para sua manutenção e influência.
Para simplificar a abstração acima, exemplifiquemos respectivamente cada coisa que aprendi: 1) se vocês, leitores, acham que, digamos, o socialismo “real” da URSS foi bom e que o socialismo do século XXI que espreita a América Latina será bom, não serão seus gritos nem suas lágrimas que os transformarão em uma realidade boa, positiva; 2) se vocês acham que os ricos são uma cambada de safados e os pobres uns pobre coitados, saibam que ter dinheiro não é atestado de canalhice, e nem ser pobre, atestado de santidade; nascer humano é estabelecer um matrimônio duradouro com nossas potencialidades maléficas e benéficas, “seja na riqueza ou na pobreza”; 3) pensar em termos de direita=nazista e esquerda= “os únicos que prestam” é preconceito e muitas vezes essa atitude camufla aqueles que são os verdadeiros nazistas, os realmente totalitários; 4) se o sujeito quer prender, torturar, roubar e matar uns tantos que discordam – e veja bem, simplesmente discordam – dele, a verdade verdadeira é que ele anseia tornar-se injusto, tornar-se torturador, tornar-se ladrão e tornar-se assassino, (enfim, um criminoso) mesmo que ele argumente: “É pro bem futuro! É pra justiça que virá!”; 5) se o sujeito diz: “Roubar é errado! Tapar minha boca é errado! Torturar-me é errado!”, mas ele rouba, cala, e tortura quem lhe convém, ou melhor, quem não lhe convém, algo de muito errado, mas de muito errado mesmo há em seus princípios e em seus valores; 6) se o sujeito diz que toda verdade é relativa, como acreditar em uma única palavra que ele diz?
Os fatos recentes do cenário político e cultural latino-americano e o filme Doze homens e uma sentença (não é Doze homens e um segrego não, hein!) me impulsionaram a escrever essa crônica. Assistam ao filme e vejam como o ódio, a violência, o preconceito e o interesse pessoal afetam o julgamento de doze homens. Apenas doze homens! Depois imaginem tal comportamento espalhado por nações inteiras e vocês imaginarão o que nos acerca.